Ética não é frescura

segunda-feira, 28 de setembro de 2015 às 16:28
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Largada GP do Japão de 2015

Colaboração: Flavio de Matos Peres

Todos erramos, claro (e eu mais que vocês, não se preocupem). E não se pode exigir a perfeição ética de quem quer que seja. Muito menos de uma categoria, como a F1, que reúne tantos interesses diversos, gente das mais diversas culturas, inseridas em uma competição dinâmica, extrema e que exige um investimento altíssimo. Mas ou a F1 muda sua maneira de ser, ou não a teremos por muitas gerações, vez que “toda casa dividida contra si mesma não subsistirá”.

A Red Bull obteve quatro títulos recentes com o motor Renault, porém, como parece não a encarar como parte de seu time, deixou o velho discurso descolado para trás, e fez veementes críticas contra a parceira, quando começou a ter maus resultados por conta das vacas magras da parceira na categoria. Quando vencia, era mérito de seu genial projetista; quando passou a perder, a parceira passou a perder sozinha. Mas talvez esteja enganado, daqui de minha posição de torcedor, e o que estava prometido e contratado não tenha sido rigorosamente entregue para o pessoal das latinhas, que, no segundo ano se esgotou. Sem querer fazer uma “caça às bruxas”, a necessária solução diplomática não apareceu, de lado a lado, e isso deixa um gosto agridoce aqui do outro lado dos alambrados.

A Honda parece ter subestimado a complexidade da nova unidade de potência da categoria (e as restrições de desenvolvimento permitidas pelo regulamento), e ainda patina no desenvolvimento. Teria sido mais prudente (re)começar com uma equipe pequena, como fez na década de 1980 com a equipe Spirit, depois se permitindo voos maiores. Mas o que Fernando Alonso fez ontem, no rádio, durante a corrida, ainda que de cabeça quente, ainda que em um canal de comunicação com sua equipe (gravado e que a FOM escolhe o que vai ao ar na transmissão), em pleno Japão, é algo que ofende a bela história da Honda na F1. No mínimo e imediatamente, deve um pedido público de desculpas. Mas, é bom lembrar, a Honda é mais importante para a categoria.

A Red Bull e a Renault parecem costurar um fim de linha. Mas aí a equipe austríaca precisa de outro motor, digo, unidade de potência (e necessariamente competitiva). Mercedes e Ferrari os possuem e já os fornecem para outras equipes de F1. A primeira já negou, em um primeiro momento, dando a entender que teme perder a majestade na categoria, caso forneça sua maravilhosa unidade de potência a um time tão bem estruturado como é a Red Bull. A Ferrari vai pelo mesmo caminho de temores, dando a entender, por notícias recentes vinculadas na imprensa, que somente forneceria a unidade desatualizada, mas não a que usa em sua equipe. Ou seja, participam de uma competição, mas não querem… competição?!? Durma-se com um barulho desses…

É necessário ver a categoria em toda a sua complexidade, o que não envolve somente vencer, mas também a atender aos interesses da competição em si, tanto no aspecto esporte, quanto no aspecto de manutenção e sobrevivência da categoria em si. Enzo Ferrari, um homem do esporte e lenda da categoria, ainda que intuitivamente, equilibrou a categoria por muito tempo, quando não aceitava contratar pilotos já consagrados que pediam fábulas de dinheiro. Mas na era recente do esporte, parece que vencer precisa ser algo que envolva o mínimo de competição. E isto, claro, não tem encantado o público mais jovem – o que coloca em risco sua popularidade futura.

Ferrari e Mercedes poderiam muito bem, uma fornecer motor para a Toro Rosso (filial) e outra para a Red Bull (matriz) – até para evitar que a equipe colha dados com quatro carros… Também é possível negociar que a F2 venha a ser uma categoria com os carros de F1 da Ferrari de 2004 (aqueles equipados com V10, máquinas resistentes e mágicas), em troca da obrigação de venderem unidades de potência de última geração, por um preço justo e aceitável, para competidores, tornando este uma espécie de motor padrão para a categoria. É preciso dar a Pirelli os dias de treino que ela pede para desenvolver seus pneus (testes que também ajudariam no desenvolvimento das unidades de potência). São necessárias regras menos rígidas, durante um ano, para o desenvolvimento dos atuais complexos “propulsores”. A repartição do bolo dos rendimentos para as equipes, também precisa passar a obedecer uma lógica mais justa, dando chance às equipes médias e pequenas de se desenvolverem melhor. Até porque se querem repartir um bolo, é necessário que exista – por muito tempo – um para ser repartido.

Flavio Peres
Poços de Caldas – MG

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