Engenheiro e Piloto: Interação de sucesso na F1 17/12/2004)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010 às 13:39
Renault

Todo grande piloto possui a seu lado um parceiro fundamental, mas pouco conhecido do grande público: o engenheiro de corridas. Este profissional é o grande responsável pela argumentação técnica que levará a equipe a um acerto eficiente. Agindo como uma espécie de intérprete, ele transforma as sensações e opiniões do piloto nos conceitos de física e engenharia que serão aplicados nos carros de F1.

Circuito de Budapeste, Hungria, 2003. Fernando Alonso domina completamente a corrida e cruza a linha de chegada em primeiro. Após se tornar o mais jovem vencedor da história da Fórmula 1, ele ergue o punho. Depois, fala pelo rádio: “Obrigado a todos. Vocês formam uma equipe fantástica!” Embora igualmente feliz, mas muito mais contido, seu engenheiro de corridas, Paul Monaghan, responde imediatamente: “Você também foi muito bem”.

A admiração mútua de ambos é óbvia – e revela o nível de confiança profissional que têm um no outro. A Fórmula 1 é uma atividade coletiva, mas Alonso e Monaghan passam mais tempo trabalhando juntos que todos os demais. Paul é também uma das eminências pardas do esporte: os engenheiros de corrida, verdadeiras estrelas dos bastidores, mas pouco conhecidos pelo grande público – mesmo em se tratando da sempre ultra-divulgada F1.

Aos 35 anos, Monaghan está em sua quarta temporada como engenheiro de corridas na Renault. Ele iniciou sua carreira na McLaren, em 1990, e logo ingressou no departamento de pesquisa e desenvolvimento antes de se juntar à divisão de projetos especiais. Em 2000, ingressou na equipe Renault. Passou a acompanhar as corridas no ano seguinte, no papel de engenheiro de desempenho responsável pelo chassi, tendo como piloto Jenson Button.

No meio daquela temporada, Monaghan assumiu a função principal para sua formação acadêmica e profissional em termos de atuação durante a disputa dos GPs de F1: engenheiro de corridas, o cérebro por trás do bom ou mal desempenho destas complexas máquinas de velocidade.
Qualquer engenheiro apreciaria muito a oportunidade de trabalhar com um jovem piloto que possui grande potencial. Palavras de Monaghan: “Fernando é atualmente um dos melhores da F1. Ele é determinado, possui uma incrível autoconfiança, é indiferente à pressão e se adapta com notável facilidade a qualquer situação. Alonso literalmente absorve as informações, crescendo dia-a-dia como profissional”. Trata-se de uma declaração que revela a confiança de Monaghan em uma de suas principais “ferramentas” de trabalho (o piloto; a outra é o carro de F1 propriamente dito).

O trabalho de Monaghan pode ser resumido em poucas palavras: juntamente com Alonso, ele acerta o carro de forma que se torne o mais veloz possível. “Neste negócio, a confiança mútua é essencial. O piloto deve saber que pode acreditar em minhas orientações e eu presto total atenção às suas opiniões. Tenho que interpretar o que Fernando me diz, ou seja, transformo suas palavras e sensações em números e nos conceitos de engenharia e física que aplicamos no carro de F1. Sou mesmo como uma espécie de intérprete, que não apenas traduz, mas que também amplia e detalha o que meu interlocutor quer dizer.”

É aqui que a experiência faz a diferença. Acertar um carro torna-se algo quase instintivo, mas ainda assim extremamente técnico, quando as idéias e informações começam a circular entre o piloto e seu engenheiro de corridas, para depois fluir para o restante do grupo técnico. Quanto mais longa a temporada, mais fácil se torna este trabalho, pois o engenheiro aprende mais como interpretar seu piloto – e vice-versa. Um simples gesto de mão, por exemplo, pode ser tudo o que se precisa para comunicar algo.

Vale lembrar que cada décimo de segundo pode fazer a diferença na F-1: o regulamento válido a partir de 2004 reduziu o tempo de utilização de pista durante o fim de semana e, por isso, chegar logo ao caminho para o acerto ideal pode ser decisivo. Por isso, a compreensão entre engenheiro e piloto é vital. “Mas nós temos ainda uma equipe inteira dedicada a essa tarefa”, conta Monaghan. “O engenheiro Rod Nelson trabalha na otimização do chassi do carro de Fernando; Pat Symonds é responsável pela estratégia de corrida e Jonathan Wheatley cuida do ajuste mecânico. Há uma longa lista de pessoas que poderia mencionar e seria errado assumir que o desempenho de Alonso são resultado meramente do que nós dois fazemos sozinhos.”

Esta interação e o entendimento mútuo entre piloto e engenheiro de corridas tem seu momento mais crítico justamente durante os GPs. Nestas provas, é rotina o carro mudar de comportamento devido a alterações climáticas ou a fatores como um jogo de pneus de desempenho irregular. Via rádio ou no boxe, o piloto informa suas dificuldades, e novamente o engenheiro as transforma em modificações no bólido, que tanto podem ser feitas pelo piloto (que ajusta os vários botões no volante, por exemplo) ou por mecânicos durante um pit stop.

Porém, o trabalho de Monaghan vai além da tarefa de discutir coisas como força aerodinâmica, rigidez da barra de torção e eficiência no contorno de curvas. Há aspectos bem menos técnicos envolvidos: “Às vezes, tenho o papel de confidente”, revela. “Preciso cuidar bem do meu piloto, orientá-lo com calma e me certificar de que o calor da disputa não o levará a assumir decisões precipitadas dentro ou fora da pista. Meu trabalho requer que me torne seu maior apoiador e torcedor”, finaliza o engenheiro da Renault.

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