E se a Red Bull sair da F1?

terça-feira, 22 de setembro de 2015 às 20:31
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Christian Horner e Dieter Mateschitz

Por: Adauto Silva

Começo respondendo já o título dessa coluna: será uma tragédia

A Formula 1 não pode se dar ao luxo de perder 4 carros neste momento. Seriam 4 porque se a Red Bull sair, obviamente a Toro Rosso também sai.

Já imaginou a F1 com um grid de 18 carros e sem uma das melhores equipes de todos os tempos? Sim, goste-se ou não da Red Bull e da Toro Rosso, elas são equipes com algumas características únicas no grid.

Elas tem um programa para jovens pilotos que realmente funciona. Qual outra tem isso? Ela contrata seus pilotos exclusivamente pela parte técnica, sem nunca pedir patrocínio a eles. Qual outra faz isso sempre?

Ela coloca seus jovens ases na Toro Rosso e se eles forem bem são promovidos à equipe principal Red Bull, onde tem reais chances de título. Qual outra faz isso?

Ela tem um autódromo particular na Áustria que é tão bom que recebe corridas de F1. Quem mais tem isso?

Ela não mede esforços para ter a melhor estrutura, técnicos, engenheiros e pilotos sempre com o objetivo de vencer e nunca tem problemas financeiros. Poucas tem isso, apesar de todas quererem.

“Ah, mas ela fala mal da Renault, parceira com a qual venceu 4 títulos de pilotos e construtores.”

É verdade, fala mesmo e muitas vezes exagera. Mas no fundo ela tem razão, uma vez que a Renault foi uma das principais incentivadoras da nova unidade de potência V6 turbo híbrida, mas mesmo assim não investiu o necessário para começar de maneira competitiva.

Já se passaram 2 anos com o novo motor e ele continua muito fraco, o que impossibilita a Red Bull de disputar as primeiras posições. Título nem pensar.

“Ah, mas eles ficam ameaçando sair da F1 toda hora!”

Bem, é a melhor arma que eles tem para conseguir alguma coisa de Bernie Ecclestone, que parece preocupado exclusivamente com o seu próprio bolso, ao invés de se preocupar em tornar a F1 minimamente rentável para todas as equipes e um pouco mais competitiva na frente do grid.

“Ah, mas agora eles querem um motor Ferrari igual ao da equipe de fábrica.”

Ué, mas eles estão certos. Se eles podem pagar, é absolutamente justo que alguém – Mercedes ou Ferrari – venda o mesmo motor para eles.

Se por acaso não venderem é porque tem medo. Em português claro, não confiam no próprio taco e acham que a Red Bull vai vencê-los com seu próprio motor.

Fiquei muito decepcionado com a recusa da Mercedes em fornecer. Mesmo que a Red Bull os vencesse, é melhor que os vença usando um motor Mercedes do que um concorrente. Vencendo com um motor Mercedes, obviamente a Mercedes teria um grande mérito na vitória do adversário. Vencendo com um motor concorrente, seria o fracasso total da Mercedes.

Pra mim, o Toto Wolff teve participação decisiva na negativa da Mercedes.

Explico. Wolff tem participação acionária na equipe Mercedes, mas não na fábrica de motores e muito menos na Corporação Daimler AG, que é a dona de tudo majoritariamente. Então Wolff ficou com medo de fornecer para a Red Bull, perder campeonatos para eles e a Daimler um dia resolver que é melhor ficar somente como fornecedora de motores, ao invés de ter equipe própria.

Trocando em miúdos, Wolff ficou com medo de perder sua “boca” na equipe. Com essa visão mesquinha, ele conseguiu convencer a Daimler a não aceitar o negócio.

Agora a Red Bull correu para a Ferrari, que também tem um motor muito bom, possivelmente no mesmo nível do da Mercedes.

Mas quem garante que os italianos vão fornecer o mesmo motor?

Teoricamente a FIA devia garantir isso no regulamento que ela mesma fez para 2014 e depois mudou em 2015. Você não está entendendo? Então vamos ver o que aconteceu com o regulamento de 2014 para 2015:

Quando Mercedes, Renault e Ferrari decidiram mudar dos antigos V8 para os motores atuais, a primeira questão que chamou a atenção foi o problema dos custos. A nova tecnologia custaria muito caro e tudo que precisava ser evitado era uma guerra armamentista de custos.

Por causa disso, o regulamento da F1 fez com que os motores fossem divididos em 66 partes, cada uma denominada token. No início da temporada cada fabricante pode decidir mudar 32 dessas partes (32 tokens). Em 2014 não houve mudanças durante a temporada.

Mas como de 2014 para 2015 a Ferrari ainda tinha 10 tokens para desenvolver e a Renault não conseguiu desenvolver nenhum dos 32 tokens, o regulamento foi “ligeiramente” alterado. Ao invés de as fabricantes já começarem a temporada com todos os tokens desenvolvidos ou alterados, foi permitido que elas alterassem todos os tokens disponíveis durante a temporada.

Por isso a gente está vendo os motores sendo desenvolvidos durante a temporada. Para as equipes que não são de fábrica, essa mudança no regulamento foi bem ruim. Em 2014 as equipes clientes tinham exatamente a mesma versão de motor da equipe de fábrica (porque os motores estavam congelados), mas este ano não, uma vez que os motores vem sendo desenvolvidos aos poucos e não de uma vez só antes da temporada começar, como estava previsto.

É só a FIA voltar ao regulamento original dos motores, que não apenas a Red Bull e a Toro Rosso terão os mesmos motores da equipe de fábrica sempre, mas sim todas as equipes clientes também.

É fácil, basta uma canetada.

O difícil é o molenga do Jean Todt dar a canetada, ou o Bernie mandá-lo dar a canetada.

Adauto Silva

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