Como será a Formula 1 em 2010?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011 às 17:22

top5-2010

Como será a Formula 1 em 2010?

Há muitos anos uma temporada de F1 não começa tão equilibrada e sem um claro favorito como essa. A competição será plena e como tem se falado, existem pelo menos oito pilotos com possibilidades reais de vencer o campeonato.

Esse número vai abaixar com o desenrolar da temporada; equipes vão se desenvolver menos que outras, pilotos vão se acostumar em tempos e formas diferentes com a nova maneira de guiar um carro muito mais pesado no começo das corridas; problemas internos vão acontecer e etc.

Os testes de pré-temporada terminaram no domingo e agora as equipes estão empacotando seus equipamentos para enviá-los para o Bahrein para a primeira corrida do ano, que acontece em menos de duas semanas.

Depois de quatro dias observando o que acontecia no Circuito da Catalunha, e conversando com algumas pessoas, é possível traçar uma idéia muito próxima da realidade sobre a competitividade relativa dos carros.

Após Barcelona, as quatro principais equipes parecem bastante equilibradas, apesar de Red Bull e Ferrari provavelmente estarem um pouquinho à frente da Mercedes e da McLaren.

Veja a análise das equipes na ordem do pitlane.

MERCEDES – Há uma passagem no primeiro andar do edifício do pit em Barcelona, onde se pode ver direto o escritório de engenharia da Mercedes GP. Seguranças e funcionários se deslocam por lá durante o dia, mas com o cair da noite eles vão para casa, permitindo uma visão perfeita de Michael Schumacher no trabalho.

Ele se senta na borda de uma cadeira, inclinando-se sobre a mesa de um engenheiro em uma intensa discussão sobre algum detalhe minucioso do desempenho do carro. Ele é muito focado e parece um homem de negócios, como sempre, e ele precisa ser: a Mercedes não tem sido o carro mais rápido nos testes.

É impossível saber com precisão quem é mais rápido, não só porque eles estão andando com diferentes cargas de combustível, mas porque eles estão fazendo isso com pneus diferentes (médio, macio e super-macios estavam todos sendo usados em Barcelona) em diferentes momentos do dia e em diferentes condições meteorológicas.

Mas as equipes de engenheiros que analisam as voltas de seus rivais, trabalham a partir de quantidades conhecidas de combustível (no início de uma simulação de corrida, por exemplo), e é assim que temos um quadro geral de como os carros estão rápidos. A Mercedes parece estar no nível da McLaren como o terceiro carro mais rápido atrás da Red Bull e Ferrari.

Schumacher tem visto a análise e diz que não está muito preocupado com o ritmo da Mercedes, mas ele não saberá o verdadeiro ritmo do carro até sexta-feira no Bahrein, quando a equipe correr com suas asas e difusor novos.

Atualmente o difusor é a peça única que gera mais downforce num carro de F1, portanto levar um difusor completamente novo apenas para a primeira corrida cria uma expectativa muito grande.

Este desenvolvimento prometido coloca as recentes declarações de Schumacher, sobre a Mercedes não estar em posição de vencer corridas, em contexto. Schumacher voltou para ser campeão novamente e este é seu único objetivo. Mas ele não quer parecer favorito antes do campeonato começar.

RED BULL – Confiantes na velocidade do seu carro, a Red Bull arruma as malas para o Bahrain esperando começar a disputa na frente. Depois do vice-campeonato de 2009, só existe um objetivo este ano; vencer.

O chefe da equipe, Christian Horner, acredita que o RB6 “está lá em cima com a Ferrari” e está feliz com as novas asas dianteira, traseira e os bargeboards trazidos para os dois últimos dias do teste de Barcelona.

O difusor da Red Bull é um kit maravilhosamente intrincado, de aparência semelhante ao da Brawn no ano passado, com grande buraco no meio em formato de limão e palhetas parecidas com as da Toyota (de 2009) de ambos os lados.

O chefe de engenharia Adrian Newey também se mostrou inovador com o tratamento que deu aos tubos de escape.

As saídas de escape para o lado externo da caixa de velocidades abaixo do braço inferior da suspensão, canaliza o ar quente em torno da suspensão traseira para a parte de cima do assoalho.

A desvantagem é que a suspensão vai ficar muito quente a partir dos gases de escape, assim a equipe colocou sensores de temperatura azuis nos braços da suspensão e no assoalho durante o teste para descobrir se seria arriscado usar.

Em uma tentativa cômica e fútil para enganar as equipes rivais e a imprensa, a Red Bull colocou um adesivo de um tubo de escape na carroceria superior abaixo do braço superior da suspensão, onde seria o lugar normal das saídas de escape!

Assim como um chassi muito bom, um motor Renault muito econômico e boa performance dos pneus na configuração de classificação, a Red Bull é a favorita de muita gente para o campeonato.

Um ponto negativo: a confiabilidade. Mudanças por precaução de caixas de cambio e bombas de óleo interromperam o programa da Red Bull, sábado, em Barcelona, levando Mark Webber a ter que devolver metade do tempo alocado a ele no domingo, para Sebastian Vettel, o que aborreceu o australiano.

McLAREN – A McLaren testou seu pacote aerodinâmico que usará no Bahrein nos últimos dois dias do teste em Barcelona, e o carro teve uma melhora significativa.

As atualizações que o túnel de vento sugeriu foram positivas, o que é sempre um alívio para toda a equipe com um carro novo.

Jenson Button fez uma simulação de corrida com o novo pacote, no sábado, mas não com o acerto que ele queria no carro. Assim, não foi possível comparar muito bem seus tempos com os de Felipe Massa, da Ferrari, que também estava fazendo uma simulação de corrida ao mesmo tempo, ou a seu companheiro de equipe, Lewis Hamilton, que também fez uma simulação de corrida no domingo.

Os engenheiros da McLaren têm investido muito tempo na gestão dos pneus – um componente-chave deste ano, já que a maioria das corridas será feita com estratégia de uma única parada, devido à proibição de reabastecimento em corrida.

O sucesso nas primeiras corridas virá sendo gentil com os pneus para mantê-los em boa forma. Button chegou a dizer hoje que as corridas serão como endurance, tamanha diferença que o desgaste dos pneus e o peso dos carros (por causa do nível de combustível) farão. Em suma, a McLaren não está onde queria ainda, mas estão próximos e eles acreditam que vão chegar lá.

Hamilton disse hoje que seu pai não é mais seu manager. Deve ser muito difícil conciliar decisões emotivas de um pai com o pragmatismo necessário num esporte tão competitivo como a F1. Isso pode ajudar Hamilton, que desde muito pequeno não tem uma relação “normal” entre pai e filho, já que seu pai sempre foi seu manager.

FERRARI – É simples explicar por que a Ferrari tem um carro bom. Eles estão trabalhando nisso em tempo integral desde junho do ano passado, enquanto todo o resto ainda estava buscando desempenho em seus carros de 2009.

Essencialmente, este ano o projeto não foi comprometido por ter de integrar o sistema KERS no carro. Eles também têm explorado o conceito do difusor duplo ao máximo.

A chegada de Alonso também ajudou bastante no desenvolvimento do carro, uma vez que esse ponto não era exatamente o mais forte de Raikkonen. Felipe Massa sabia de todas as dificuldades encontradas no carro do ano passado e focou em minúcias para ter certeza que o carro deste ano fosse melhor.

O resultado é um carro mais fácil de guiar que foi rápido desde sua primeira vez na pista, tem uma boa confiabilidade (embora tenha havido pequenos problemas durante o teste de Barcelona) e não desgasta demasiadamente os pneus, o que é uma grande vantagem.

A Ferrari chega para a primeira corrida talvez como a equipe mais bem preparada de todas. Entre os primeiros a lançar seu carro, eles fizeram um bom uso do tempo ensolarado no primeiro teste e conseguiram completar seu programa completo na preparação para o Bahrein. Ambos os pilotos concluíram simulações de corrida com êxito.

A única surpresa poderia ser as melhorias que outras equipes levarem para a primeira corrida. A Ferrari mostrou o que tem: O pacote que teve nos dois últimos dias em Barcelona é basicamente como o carro vai correr no Bahrain. O resto vai alcançar?

O meio do grid – O azarão do meio do grid é a Force India. Adrian Sutil descreveu este inverno como “os melhores testes de pré-temporada que já tivemos”.

Apesar de eles terem faltado no primeiro teste em Valencia, com o mau tempo que fez, eles não perderam tanto assim. De qualquer maneira o carro é previsível, fácil de guiar e consistente tanto com pouco combustível quanto com muito.

Sutil é um piloto rápido e em ascensão, pelo menos é o que a equipe diz dele nos bastidores. No último dia em Barcelona ele conseguiu um tempo de volta que espantou a própria equipe, ao ficar menos de 2 décimos do melhor tempo da semana de Lewis Hamilton.

Williams – A Williams também está feliz com seu pacote, com relatos de boa potência e eficiência de combustível do seu motor Cosworth.

A Cosworth, apesar de não declarar oficialmente, aposta todas suas fichas na Williams, até porque a equipe do velho e sábio Frank Williams parece ser a única capaz de mostrar a capacidade de seu motor.

O veterano Rubens Barrichello se integrou perfeitamente na equipe após a sua passagem na Brawn e parece que está lá há anos. Mais uma vez Rubens demonstra sua extrema facilidade em lidar com as pessoas próximas a seu trabalho.

O novato Nico Hulkenberg tem impressionado o diretor técnico Sam Michael, com sua velocidade e consistência nos testes.

“Queremos que Nico nos mostre uma taxa clara de progresso e force Rubens ao máximo, enquanto cometa o menor número de erros possível”, diz Michael. É isso o que eles queriam – mas nunca conseguiram – de Kazuki Nakajima, nos últimos dois anos ao lado de Nico Rosberg.

A Sauber continua a impressionar com seu ritmo de classificação.

Kamui Kobayashi andou no mesmo ritmo de Williams e Force India com tanque baixo, mas ele admitiu que a equipe precisa trabalhar na questão dos pneus quando o tanque está cheio. O dinheiro, ou a falta dele, também pode ser um fator mais tarde na temporada – o carro ostenta poucos logotipos de patrocinadores neste momento.

Pedro de la Rosa mostrou nos testes que tem muito a oferecer em termos de desenvolvimento do carro, e isso pode jogar a favor da equipe durante o ano se, repetindo, a questão financeira não atrapalhar.

Na Renault tudo é novo; carro, pilotos, chefe de equipe e engenheiros. Por causa destes aspectos, eles são os mais nervosos para saber onde se encontram no grid. Robert Kubica diz que o carro não tem aderência e os tempos de volta dele atestam isso.

A equipe tem um pacote de melhorias aerodinâmicas e mecânicas para a primeira corrida. O túnel de vento sugere que será um grande passo, enquanto Kubica está ansioso para ver se traduzem isso em melhores tempos de volta.

O novato Vitaly Petrov enfrenta um difícil início de temporada, mas tem a sorte de ter um engenheiro novo (na equipe) com muita experiência para cuidar dele: Mark Slade, que venceu corridas e campeonatos com Mika Hakkinen, Kimi Raikkonen e Heikki Kovalainen, que veio da McLaren para a Renault.

O Toro Rosso STR5 é muito parecido com o Red Bull RB6, embora a Toro Rosso tenha concebido e fabricado seu carro em Faenza pela primeira vez. A equipe diz que o carro é bom o suficiente, mas Sebastian Buemi passou a maior parte do teste tentando diferentes acertos de carro, tentando encontrar um pouco mais de velocidade no carro que tem motor Ferrari.

Novas equipes

Como eu disse na minha coluna anterior, são um fiasco quase completo. Mas vamos a cada uma delas…

A Lotus terminou o teste de Barcelona cinco segundos mais lenta que o ritmo imposto pela McLaren. Esta é a margem que eles terão de conviver nas primeiras corridas.

O carro é mais confiável do que o dos colegas da Virgin, embora não muito. A equipe tem um pacote aerodinâmico significativo para estrear no GP da Espanha, em maio, para que possamos começar a julgar o seu potencial a longo prazo.

Virgin Racing – A Virgin parece ser mais rápida que a Lotus em uma volta, mas o carro é frágil.

O diretor técnico Nick Wirth, admite que houve um erro de projeto em algumas partes do sistema hidráulico. Como quase tudo que faz você parar ou andar em um carro de F1 é hidráulico (acelerador, caixa de velocidades, freios, etc), é importante que esse sistema seja quase indestrutível.

Wirth diz que há uma correção em andamento para as quatro primeiras corridas, enquanto o sistema está sendo redesenhado no Reino Unido. Há um pacote aerodinâmico melhorado que vai acrescentar desempenho ao carro no Bahrain.

USF1: a notícia de hoje é que a equipe fechou. O sonho americano de ter uma equipe de F1 acabou antes mesmo de terem um carro. Com isso a imagem de dois personagens que transitam há muito tempo no meio da F1 fica bastante arranhada; Ken Anderson e Peter Windsor, que colocaram a carroça á frente dos bois ao não levantarem dinheiro suficiente para criar e manter uma equipe de Formula 1.

Estima-se que para competir na F1 uma equipe necessite de um investimento inicial de pelo menos U$ 150 milhões e depois no mínimo U$ 100 milhões ao ano como orçamento para se manter no meio do grid.

É difícil falar algo sobre a Campos, que continua sendo uma incógnita, já que não mostrou seu carro, não treinou e sequer tem todos os pilotos contratados. A cada momento sai uma notícia nova sobre seu destino. Impossível prever alguma coisa minimamente concreta.

A derrocada da USF1 abre uma possibilidade para a Stefan GP, outra incógnita que anda implorando um lugar no grid. Pelo menos eles dizem ter carro (Toyota 2009) e pilotos prontos para o Bahrain.

Um abraço e até a próxima!
Adauto Silva
adauto@autoracing.com.br

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