Como ler as imagens da TV 14/10/2004)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010 às 13:37
Franck Montagny

Ao longo de décadas, os organizadores da Fórmula 1 esforçaram-se para transformar a transmissão de suas corridas em um show de imagens. Uma grande sofisticação é o uso de câmeras “onboard” em carros que superam os 300 km/h. Ao fazerem isso, eles também proporcionaram às equipes rivais diversas oportunidades de espionar os concorrentes e até decidir uma corrida. O piloto de testes Franck Montagny explica como interpretar as imagens

Na Fórmula 1, as câmeras “onboard” são as preferidas dos profissionais responsáveis pela escolha de qual imagem será imediatamente mostrada aos telespectadores. Instaladas nos próprios carros, elas exibem os incidentes de corrida praticamente do mesmo ângulo visto pelo piloto – e podem ser realmente reveladoras. Uma das mais utilizadas é a instalada no santantonio, uma espécie de barra colocada acima da cabeça dos pilotos para protegê-los em caso de capotagem. Ela permite que a audiência veja a movimentação do capacete do piloto, a posição de suas mãos e as manobras que elas realizam com o volante.

Câmeras como essa são muito utilizadas não apenas pelos profissionais de TV: com as mesmas imagens que vemos nas transmissões, equipes rivais tentam identificar detalhes dos carros concorrentes. É rotina também a direção de prova usá-las para definir a culpabilidade de um piloto nos casos de acidente ou em manobras irregulares. São verdadeiras espiãs.

“Para quem tem um olho treinado ou para aqueles que são muito atentos, estas imagens são muito interessantes. Passo muito tempo analisando-as”, explica o piloto de testes da Renault, Franck Montagny. “Elas revelam especialmente dois aspectos: como o competidor está pilotando e qual é o comportamento do carro”.

De acordo com Montagny, por meio dessas imagens pode-se identificar o estilo de cada piloto. “Vamos falar da prova dos EUA, cujas imagens eu vi bastante. Na curva 1, os pilotos da Renault entravam com suavidade e, então, viravam o volante rápida e subitamente. Essa manobra facilita estabilizar o carro dentro da curva, gerando uma tendência a sair de traseira, que é mais controlável do que a saída de frente. Fernando Alonso é muito bom nesta manobra, pois ela casa perfeitamente com seu estilo natural de pilotar. Porém, é muito difícil executá-la direito – pode-se perder o controle facilmente e sair rodando”.

Naquela prova, os carros da Ferrari e da BAR pareciam comportar-se melhor na curva: “Isso pode ser notado porquê os pilotos fazem apenas pequenos movimentos, pequenas correções de rota”, diz Montagny. “Uma vez que o carro tenha entrado no traçado da curva, os pilotos dão apenas pequenos toques corretivos no volante. Isso mostra que eles tinham muita aderência e podiam ser velozes nas curvas, ganhando tempo. Entres os carros que davam mais trabalho ao piloto, que movimentava muito o volante, eu destacaria os McLaren, Sauber e Jordan”.

Alguns pilotos também usam bastante os diversos controles localizados no volante de direção. “Michael Schumacher é um exemplo típico”, diz o piloto francês. “Ele constantemente ajusta o acerto do carro com estes controles, girando ou apertando botões, talvez sob orientação de seus engenheiros. Durante a volta de classificação para o grid na pista de Indianápolis (local do GP dos EUA), pudemos ver Alonso fazendo alguns ajustes no acerto do diferencial de seu Renault”.

O formato do volante de direção também é importante: “Alguns deles são moldados à pegada das mãos do piloto”, explica Montagny. “Alguns são grandes, outros menores. Mas o mais importante é que o piloto se sinta confortável e seguro com eles: afinal, esta é sua ferramenta de trabalho mais importante! É muito comum os volantes serem ligeiramente diferentes até mesmo entre os usados por dois companheiros de uma mesma equipe – coisas como o acolchoamento, o formato da empunhadura, a localização dos botões, etc.”

Quando se usam as câmaras embarcadas em uma transmissão, também é importante estar atento aos movimentos da cabeça do piloto. “Quando a cabeça se move muito, é indicativo que o carro está muito ‘nervoso’, instável. Os Williams e os Renault, por exemplo, são carros duros e a cabeça de seus pilotos balançam mais do que as de Michael Schumacher ou Rubens Barrichello”, observa Montagny. “Geralmente, estes movimentos são acompanhados por correções feitas no volante – especialmente em circuitos com pouca aderência.”

As câmaras “onboard” podem também ser uma rica fonte de informação para as equipes durante as corridas. Elas podem mostrar a piora nas condições de estabilidade do carro e permitir que uma equipe concorrente, cujo carro venha atrás do que está sendo mostrado na TV, identifique a falha e avise ao seu piloto que chegou o momento de atacar.

Por exemplo, o comportamento dos pneus muda bastante durante uma prova – e sua deterioração pode facilmente ser verificada por um especialista que assista as imagens da televisão. Então, se estivermos vendo a briga pela liderança, as imagens podem ajudar até mesmo a decidir a corrida.

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