Coitado do Massa, vai começar tudo de novo. Por Lito Cavalcanti

quarta-feira, 17 de abril de 2013 às 11:53

Fernando Alonso e Felipe Massa

 

Conteúdo patrocinado por: selopatrocinio

 

Ao brasileiro só falta uma coisa: estudar o que Alonso faz

Pronto, eu sabia que, mais hora menos hora, ia acontecer. Fernando Alonso quebrou a série positiva de Felipe Massa nas provas de classificação e largou à frente dele no Grande Prêmio da China, o que já bastou para a retomada da operação de destruição, a Delenda est Massa, que andava meio parada neste começo de campeonato.

Depois veio a corrida. Nas voltas iniciais, Massa colocou Alonso sob pressão, mostrando até mais velocidade que o espanhol. Fez uma ultrapassagem ainda mais bonita sobre ninguém menos do que Lewis Hamilton para continuar colado no aerofólio de Alonso, mas não adiantou: o sonho durou pouco.

Mais exatamente, até a oitava passagem do pelotão da F1 pela reta dos boxes. Ou melhor, a sétima. Foi este o total de voltas que os pneus macios dos carros da Ferrari aguentaram – ou 10, considerando-se as três dadas no qualify. Como de hábito, e com inteira razão, a Ferrari chamou seu piloto principal para trocar os pneus no último momento antes da queda vertical da aderência. Massa ficou na pista, esperando sua vez.

Daí para a frente, nada mais havia a ser feito, Massa estava irremediavelmente fadado a um papel de coadjuvante. Os segundos perdidos naquela oitava volta o recolocaram na pista atrás de pilotos mais lentos, mas que tinham pneus ainda em condições de oferecer resistência. Navegando na turbulência deixada pelos outros carros, Massa teve de se conformar com um sexto lugar. Certo, ele até pode se revelar valioso no fim do ano, mas não basta para amenizar a fúria dos carrascos das mídias sociais.

Que, por sinal, deságua em boa parte, nos meus perfis. E nem sempre da forma mais educada. Verdadeiras catilinárias se misturam a catadupas de impropérios, revelando impaciência, intolerância e desconhecimento dos mais básicos rudimentos do automobilismo.

Pessoas que, em outras situações demonstram inteligência e educação, se mostram irascíveis, furiosas, refratárias às mais lógicas explicações. Para eles, Massa não passa de um submisso. Este GP da China foi um desses casos.

Mal acabada a prova, as mensagens dos inconformados começaram a pipocar. Com base nos ensinamentos aprendidos nos bancos da Escola Superior de Engenharia Casseta & Planeta e na pós-graduação das arquibancadas de futebol, rejeitam-se todas as explicações.

De nada adiantou (nem um dia adiantará) mencionar que a aderência ao solo de um F1 depende vitalmente da pressão que sobre ele exerce o ar deslocado pelo seu movimento. E menos ainda tentar explicar que, quando um carro segue o outro, esse ar rareia e a supracitada pressão contra o solo se esvai. Por consequência, a aderência dos pneus cai e eles passam a se atritar contra o solo, que funciona como uma lixa, dando fim ainda mais rápido à já fugaz vida útil dos pneus.

Pior ainda dizer que um carro de F1 depende dos pneus para andar bem, assim como nós seres humanos, e também diversos irracionais, dependemos de nossos pés para os mesmos efeitos. Lá como cá, são eles os únicos elementos de contato com o piso, solo, chão ou terra, como queiram os leitores chamar a superfície sobre a qual nós caminhamos e os carros rolam.

Em assim sendo, me nego a mais uma vez explicar o que de fato aconteceu. E também a dizer que o carro do Alonso não sofreu o mesmo efeito porque ele não esteve a corrida inteira seguindo outros carros de perto; que a parada para a troca de pneus dele foi na última volta antes da queda de aderência dos pneus com que iniciou a corrida; e que se, a exemplo de Massa, ele tivesse permanecido mais uma única volta na pista, seu destino seria semelhante, tal e qual, ao do brasileiro.

Mas nem por isso vou negar a perfeição com que executou a estratégia escolhida, não vou menosprezar a precisão cirúrgica de suas ultrapassagens nem me furtar a reverenciar seu irretocável controle de cada fase da corrida. Mas também não me deixo esquecer que, até entrar em vigor a escolha tática da Ferrari, ele tinha em seus retrovisores um enorme Felipe Massa.

Não pretendo voltar ao assunto, por mais que antecipe as muitas mensagens que chegarão a este autoracing me acusando de defensor incondicional do brasileiro. Eu prefiro me ver como defensor dos raciocínios lógicos. Mas não vou insistir, cada um entende o que quer. Ou pode.

Sei que a corrida mais que perfeita do espanhol acirra o desapontamento que torna ainda mais visceral a descarga de fel que tem-se seguido a muitos GPs. Mas a qualidade excepcional de Alonso não faz de Massa um fracasso, como pretendem alguns.

Imagino o que se diria dele se, como fez Raikkonen, tivesse batido na traseira do mexicano Sérgio Perez em uma manobra pelo menos precipitada; ou se tivesse cometido a sandice com que Mark Webber deu fim à sua corrida e à do promissor francês Jean-Eric Vergne; ou se fizesse a corrida mais do que insossa que fez Jenson Button; ou sei lá mais o quê…

Explicar este fenômeno vai muito além de mim, é tarefa para os mais afiados antropólogos. Prefiro esperar que a ótima fase da Ferrari se espalhe também sobre o brasileiro. Não me restam dúvidas de que os carros de Maranello são os mais bem adaptados às exigências desta fase da F1. Não tão rápidos quanto foram os Red Bull na Malásia, mas tão eficientes quanto o Lotus de Raikkonen (e apenas o dele) na Austrália.

Pode ser que, no retorno à Europa, o quadro mude. Mas por enquanto, cabe a Massa aprender tudo que Alonso faz e assim evoluir como piloto. Foi o que fez Nelson Piquet quando tinha Niki Lauda como líder da Brabham; foi o que fez Rubens Barrichello quando estava ao lado de Michael Schumacher na Ferrari; é o que deve fazer Massa agora.

Que os carros da Ferrari são idênticos não há dúvida. O que diferencia seus desempenhos é o trabalho que neles é feito. Sim, Alonso é melhor do que Massa; assim como Andrea Stella é melhor do que Rob Smedley. Por isso, piloto e engenheiro devem se debruçar sobre o que se faz na garagem ao lado e beber desta fonte. É a melhor água disponível; é também a atitude mais produtiva.

Se tivesse aprendido a lição que Valsecchi e Razia deram na GP2 no ano passado, Massa não teria seguido Alonso tão de perto nas voltas iniciais. Assim, economizaria pneus e perderia menos tempo na fatídica oitava volta. Alonso estudou a corrida de Massa na Malásia, e viu que no seco a Ferrari era mais rápida que os Red Bull. Resultado: venceu de ponta a ponta a corrida seguinte. Que por sinal foi exatamente este GP da China de que falamos aqui…

Lito Cavalcanti

Leia e comente outras colunas do Lito Cavalcanti

AS - www.autoracing.com.br

Tags
, , , , , ,

ATENÇÃO: Comentários com textos ininteligíveis ou que faltem com respeito ao usuário não serão aprovados pelo moderador.