Ciao grande Urso

A tristeza é tão grande neste momento que não sei se como esse texto vai ficar. Não é um texto pensado, simplesmente estou escrevendo. O Marco Simoncelli, que aprendi a chamar de Urso do Cabelo Duro com o Edgard Mello Filho, morreu hoje de manhã e escrevo à noite, quase segunda-feira já.

A tristeza não diminui. Entro na home do Autoracing e vejo a foto do cara, entro no Forum e é óbvio que estão todos falando nisso, abro o e-mail e o pessoal escrevendo sobre os acidentes do Urso e do Wheldon. Aí saio do computador e vou ver TV, ligo no futebol, mas no intervalo os caras mostram o acidente, mostram o Urso no grid com a plaquinha do novo site dele. Caramba, assim eu choro toda hora.

Não sei quanto a você que está lendo, mas eu acabo me sentindo íntimo de esportistas que às vezes nem conheço. Não conheci o Urso pessoalmente, nunca troquei um e-mail com ele ou com alguém que o conhecesse, mas por que me sinto tão triste? Fiquei triste com a morte do Dan Wheldon, mas também fiquei revoltado, puto com o descaso dos dirigentes em fazer uma corrida como aquela em Las Vegas, pista que conheci e andei em fevereiro deste ano.

Mas no caso do Urso eu fiquei só triste, estou só triste, o que é muito pior. Ficar bravo, meio revoltadinho é melhor que ficar triste. Que acidente idiota, que azar de merda ele teve! Era a hora dele? Por que justamente na hora que a gente está assistindo? Por que no esporte que amamos? Por que justamente o Urso, um cara tão querido e carismático? E o Colin Edwards e o Valentino Rossi, que deram o azar de estarem bem atrás dele e não terem tido qualquer possibilidade de desviar? Devem estar arrasados, apesar de saberem todos os riscos que se submetem na profissão que escolheram. Que azar!

Valentino não se pronunciou até agora, pelo menos não encontrei nada, mas temo que ele possa tomar alguma decisão drástica e espero sinceramente que existam muitas pessoas ao redor dele agora fazendo-o pensar bem antes de se pronunciar. Valentino é o maior expoente do esporte a motor desde Ayrton Senna, um ídolo fantástico em todo o planeta e seria muito, mas muito ruim para todo mundo se ele resolvesse parar agora.

Difícil continuar escrevendo, faltam palavras. Fico olhando para o teclado e querendo escrever um monte de palavrão, ficar bravo com alguma coisa, achar um culpado, xingar. Mas isso passa rápido e volta a tristeza.

A única coisa que pode me consolar um pouco agora é agradecer o Urso pelos momentos emocionantes que ele vem me proporcionando desde 2008 , quando venceu o mundial das 250cc pela Gilera. Naquela época o Urso já era um guerreiro, lutava por cada posição até a linha de chegada da última volta. Foram muitos os duelos históricos vencidos e perdidos por ele na última volta, na última curva, no último suspiro do motor na linha de chegada. Como esquecer o passão em cima do Biaggi na última curva em Imola 2009 pela SBK?

O Urso era um daqueles pilotos que não se conformava em não andar na frente e frequentemente tentava e conseguia “andar mais que o equipamento”. Ás vezes ele parecia desafiar aquele ditado frio que todos nós conhecemos de que “ninguém faz mágica no esporte a motor”. Na verdade ninguém faz mesmo, o ditado está certo, mas quem não gosta daqueles que tentam desafiá-lo e vibram como loucos quando parecem conseguir?

Grande Urso, no pódio só dava ele com aquela cabeleira maluca, aquela napa gigante e aquele sorrisão de alegria.

Descanse em paz, grande Urso!

Adauto Silva

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