Carros de rua – Etanol combustível: rodando com álcool

terça-feira, 10 de janeiro de 2012 às 16:56

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Uma engenheira química segura um tubo de teste com biocombustível na fábrica da Oleoplan, em Passo Fundo, no Brasil. O Brasil está buscando ampliar o setor para incluir pequenos agricultores que podem aumentar sua renda plantando lavouras usadas para produzir biocombustível. (Foto: Reuters)

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O álcool que colocamos nas nossas bebidas também pode alimentar os carros: uma ideia de grande alcance. O álcool etílico ou etanol é, de longe, o biocombustível nº 1 atualmente, e também o mais controverso.

Produzir etanol combustível é como fabricar cerveja ou bebidas alcoólicas, pois o principal ingrediente é o açúcar. O processo envolve fermentar o açúcar (usando levedura) e depois destilá-lo para retirar a água da mistura, de modo a se tornar mais concentrado e potente.
 
O setor de etanol hoje obtém o açúcar de duas fontes principais: vegetais ricos em açúcar, como cana-de-açúcar ou beterraba, e vegetais com alto teor de amido, como milho e trigo. Os vegetais ricos em amido precisam ser convertidos em açúcar antes de poderem ser transformados em biocombustível.

Lavouras para biocombustível são consideradas uma fonte de energia renovável e uma alternativa segura ao petróleo, e por isso a produção mundial de etanol combustível triplicou entre 2000 e 2007, passando de 17 bilhões para mais de 52 bilhões de litros.

Embora tenha diminuído recentemente devido à crise econômica, o seu crescimento continua. Em 2009 alcançou-se a marca dos 76 bilhões de litros, e os preços em ascensão do petróleo poderiam dar ao etanol um novo empurrão.

O mercado do etanol é dominado pelos Estados Unidos, que usam majoritariamente o milho, e pelo Brasil, que utiliza predominantemente a cana-de-açúcar. Juntos, esses dois países produzem quase 90% de todo o etanol combustível.

Junto e misturado
A maioria dos carros convencionais pode usar o bioetanol, mas não em sua forma pura.
Em primeiro lugar, o teor energético do etanol equivale a apenas dois terços do teor da gasolina, reduzindo, assim, a economia de combustível e seu alcance. Em segundo, o etanol pode se solidificar quando exposto a baixas temperaturas, interrompendo a passagem do combustível e dificultando a partida em veículos com ignição a faísca convencional. E, finalmente, o etanol combustível pode causar corrosão e danificar o motor – os carros mais velhos são especialmente vulneráveis a esse problema.

Portanto, o etanol combustível é misturado com gasolina antes de chegar às bombas, de modo que os motoristas se abastecem, na verdade, com uma mistura de biocombustível e gasolina. A mistura chamada E10, por exemplo, contém 10% de etanol e 90% de gasolina, enquanto o E100 é etanol puro.

Devido aos preços em ascensão do petróleo, à segurança energética ou às crescentes emissões de CO2 do transporte rodoviário, diversos países ordenaram a mistura de biocombustíveis para o seu mercado automobilístico, geralmente em proporções de 10% ou 15% (E10 ou E15), como nos Estados Unidos.

O Brasil foi mais além, impondo as misturas E25 e E100 em todos os postos de combustível nacionais – uma medida que se beneficia do clima quente do país, onde a partida a frio do motor não constitui um problema sério.

etanol-combustivel-2O país também estimulou o desenvolvimento e a distribuição de novos carros com motores modificados, capazes de usar concentrações bem mais altas de etanol combustível, em gradações até E100, sem perda significativa de desempenho.

Praticamente, todos os carros novos vendidos no Brasil são dotados de motor flex, que é capaz de rodar com etanol puro ou qualquer tipo de mistura. Os carros flex já constituem 40% da frota brasileira de veículos, em comparação com apenas 4% nos Estados Unidos, segundo dados da Agência Internacional de Energia (International Energy Agency – IEA).

Açúcar versus milho
A transformação feita pelo Brasil da sua base energética do transporte deve-se, em grande parte, à eficiência na produção do etanol derivado da cana-de-açúcar, o único biocombustível no mundo inteiro capaz de competir no preço com a gasolina ou o diesel sem grandes subsídios governamentais.

Há muitas terras baratas, mão de obra barata e plantações já existentes de cana-de-açúcar. A planta cresce rápido e converte uma proporção relativamente alta de energia solar em biomassa. A produção de etanol por hectare pode chegar ao dobro daquela obtida com o milho nos Estados Unidos, segundo o instituto norte-americano de pesquisas Woodrow Wilson Center.

Transformar cana-de-açúcar em biocombustível não requer muita energia externa, porque a fermentação e o processo de destilação são bastante simples e podem ser alimentados queimando-se os resíduos secos da cana.

Em última análise, isso permite ter um biocombustível cuja produção custa de 20 a 25 centavos por litro, de acordo com o Woodrow Wilson Center, e economiza mais de 80% das emissões de gás de efeito estufa que teriam sido geradas usando gasolina.

Produzir etanol a partir do milho, no entanto, não é comparável em termos de eficiência. O milho requer mais fertilizante e pesticidas, e precisa ser transformado primeiro em açúcar antes de se tornar biocombustível, um processo que requer alto consumo de energia.

Além disso, o milho nem de longe fornece biomassa de resíduos suficiente para alimentar esse processo. Em vez disso, a energia necessária muitas vezes vem da queima de combustível fóssil, como o carvão.
 
Isso significa que o etanol de milho gera apenas 1,5 mais energia do que a que foi usada na sua produção, enquanto o etanol de cana gera 8 a 10 vezes mais energia. Fora isso, a economia proporcionada pelo etanol de milho em termos de gases de efeito estufa é de apenas 10% a 30%.

Não bastasse isso, converter os milharais da produção alimentar para a produção de combustível eleva o preço dos alimentos para as populações pobres do mundo, dizem os críticos. Já a produção de cana-de-açúcar teve menos impacto, em parte porque o açúcar não é um alimento básico, é mais consumido pelos ricos.

etanol-combustivel-3Diante disso, a cana-de-açúcar brasileira leva uma grande vantagem, mas, como todos os biocombustíveis, tem os seus críticos também. A produção canavieira em expansão poderá levar outros agricultores ou proprietários rurais a desmatar áreas anteriormente intocadas. Essa ‘mudança indireta no uso do solo’ poderia anular qualquer economia nas emissões dos biocombustíveis.

Outra questão é que a cana-de-açúcar exige muita água, um recurso que é cada vez mais escasso em certas partes do Brasil. Há também relatos da Anistia Internacional e de outras entidades de que a indústria alcooleira utiliza trabalho infantil e muitos trabalhadores vivem sob condições horríveis.

A sustentabilidade do etanol combustível depende, sem dúvida, de onde e como ele é plantado, de quais insumos de energia ele requer e do impacto geral que ele impõe ao meio ambiente, à produção alimentar e ao uso da terra. Por isso o boom do etanol tem provocado críticas consideráveis.

Sob circunstâncias corretas, o Brasil mostra que é possível passar do transporte dependente do petróleo para uma economia baseada no etanol, mas, isso tem o seu preço.

James Tulloch

AS – www.autoracing.com.br

 

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