BBC elege Ayrton Senna o melhor piloto da história da F1

terça-feira, 20 de novembro de 2012 às 17:28
Ayrton Senna - melhor piloto da história da F1

Ayrton Senna - o melhor piloto da história da F1

A BBC Sport fez o perfil dos 20 maiores pilotos de Formula 1 de todos os tempos. Cada membro da equipe de F1 da BBC foi convidado a fornecer sua própria lista pessoal dos 20 melhores, que foi combinada para produzir a lista oficial e final da BBC.

Os três brasileiros campeões mundiais de F1 figuram na lista dos 20 maiores.

E o número um, o melhor de todos, assim como em praticamente todas as listas já produzidas pela mídia internacional – seja ela TV, rádio, revista, jornal ou internet – foi novamente o brasileiro Ayrton Senna.

É interessante verificar como um dos veículos de mídia mais importantes do mundo – e também da Formula 1 – enxerga o brasileiro Ayrton Senna da Silva.

Reportagem da BBC – Tradução de Adauto Silva

A morte, talvez inevitavelmente, emprestou à lenda de Ayrton Senna um brilho romantizado.

A grandeza do homem e o brilho de sua tocada são fáceis de lembrar, a escuridão ocasional de sua psique nem tanto.

O significado de suas conquistas não pode ser adequadamente compreendido sem uma apreciação plena de suas origens.

Provavelmente nenhum piloto na história da Formula 1 se dedicou mais ao esporte, deu mais de si mesmo na busca inflexível de sucesso. Senna era uma força da natureza, uma poderosa combinação de talento cru espetacular e determinação às vezes aterrorizante.

Ele teve a boa aparência de um herói romântico, um carisma que poderia acalmar qualquer espaço, a eloquência de um poeta e uma espiritualidade com que milhões sentiram que poderiam se identificar. Seus olhos escuros eram as janelas para uma alma complexa e volátil.

Tudo isso fez dele um semideus em sua terra natal, o Brasil, e admirado em todo o mundo como poucos desportistas conseguiram antes ou depois.

Mas, com essa determinação, e seu próprio conhecimento de quão bom ele era, veio um sentimento de direito que foi menos atrativo e que o levou a tomar ações que colocaram sua própria vida – e as vidas de seus adversários – em risco.

No auge de sua rivalidade, uma dos maiores que o esporte já viu, Alain Prost comentou: “Ayrton tem um pequeno problema. Ele acha que não pode se matar, porque ele acredita em Deus, e eu acho que isso é muito perigoso.”

Mas os discursos de Senna sobre os perigos de sua profissão, no entanto, sugerem que ele sempre foi muito consciente de sua mortalidade.

“Você está fazendo algo que ninguém mais é capaz de fazer”, disse ele uma vez. “Mas ao mesmo tempo em que você é visto como o melhor, o mais rápido e alguém que não pode ser tocado, você é extremamente frágil, porque em uma fração de segundo tudo pode acabar.”

“Esses dois extremos são sentimentos que você não tem todos os dias. São coisas que contribuem para – como posso dizer? – você se conhecer mais e mais a fundo. E é isso que me faz continuar”

Provavelmente nenhum outro piloto jamais falou esse tipo de coisa, dando um vislumbre das demandas filosóficas do seu trabalho e – não menos importante – mostrando que está plenamente familiarizado com elas.

Senna guiou do início ao fim de sua carreira como se estivesse determinado a testar os limites da atividade humana e capacidade física. Muito cedo tornou-se evidente que ele era um ser humano extraordinário e um talento extraordinário dentro de um carro de corrida.

Suas temporadas espetaculares nas categorias de base fizeram com que ele chegasse cedo na F1. Em sua temporada de estreia, com a equipe Toleman, em 1984, ele não decepcionou. Em Monaco, sua sexta corrida na F1, veio o primeiro vislumbre do piloto que iria dominar sua época.

Na chuva, Senna saiu de 13º no grid para chegar rapidamente no líder Prost, mas sua primeira vitória foi negada quando a corrida foi interrompida na metade da distância, com Senna na cauda do francês.

Após mais alguns fortes desempenhos, a Lotus ofereceu-lhe uma vaga para 1985. Senna, mostrando a crueldade que se tornaria por demais evidente, aceitou-a, apesar de ter mais dois anos de contrato com a Toleman.

A Lotus não era o carro mais rápido naquele ano, mas Senna fez sete poles em 16 corridas. Sua primeira vitória veio logo em sua segunda corrida com a equipe – mais uma vez no molhado, desta vez no Estoril, em Portugal. E foi uma vitória avassaladora, onde Senna colocou mais de 1 minuto de diferença no segundo colocado e 1 volta no terceiro e quarto colocados.

Depois disso, Senna continuou na Lotus por mais 2 anos e estabeleceu-se indiscutivelmente como o homem mais rápido da F1. Em 1988 ele se juntou à McLaren, levando os motores Honda com ele, para formar uma super equipe com Alain Prost.

Para ser o melhor – e provar isto para o mundo – Senna tinha que bater Prost, que era a referência na época, o homem a ser batido, e Senna foi para o limite de sua capacidade e aceitabilidade – e até além – para fazê-lo.

A partir daí a história é bastante conhecida. A rivalidade infernal com Prost levou ambos os pilotos a um nível nunca visto antes – e certamente nem depois – de excelência e fúria no esporte.

A carreira de Senna coincidiu com a infância das câmeras onboard, e deu testemunho de um compromisso em suas voltas de classificação que era ao mesmo tempo imponente e assustador.

A mais famosa, talvez, tenha sido a classificação de Monaco em 1988, quando Senna conquistou a pole de Prost por uma diferença absurda de 1,427s. Mais tarde, ele falou que se sentiu fora do próprio corpo, descrevendo sua tocada de forma metafísica.

A McLaren dominou a temporada de 1988 como ninguém antes ou depois – vencendo 15 das 16 corridas, com Senna vencendo Prost por 8 a 7 e conquistando o título com uma atuação lendária no Japão.

Mas a relação entre os dois pilotos, sempre muito frágil, arrebentou completamente no ano seguinte, depois de Senna supostamente ter descumprido um acordo de não ultrapassar na primeira curva no GP de San Marino. Qualquer confiança que havia se foi.

O título de 1989 foi decidido em uma colisão entre os dois em Suzuka, no Japão, e por uma decisão controversa de Jean-Marie Balestre, o presidente da FIA na época, que desclassificou a subsequente vitória de Senna, que teria mantido o campeonato vivo.

O sentimento de injustiça queimou dentro de Senna por um ano, até que o campeonato do ano seguinte chegasse a seu clímax, também no Japão.

Desta vez, não houve debate sobre de quem foi a culpa do acidente. Senna, sofrendo com a decisão de Balestre de não mover a pole position para o lado vantajoso da pista, e acreditando que havia uma conspiração contra ele, simplesmente enfiou seu carro na traseira da Ferrari de Prost na primeira curva a 260 kph.

Senna pintou-se como o homem injustiçado, mas na tentativa de justificar o acidente, ele dissimulou. “Nós estamos competindo para ganhar e se você não tentar aproveitar uma eventual chance, você não é mais um piloto de corridas”, disse ele, deixando de mencionar que não havia realmente uma chance real naquele momento. Ele finalmente admitiu que bateu deliberadamente em Prost um ano depois.

O acidente assegurou a Senna seu segundo título, e ele acrescentou um terceiro em 1991, conquistando quatro vitórias consecutivas nas corridas de abertura. Uma delas foi uma de suas maiores – ao ficar só com a sexta marcha nas voltas finais do GP do Brasil.

Nos anos de 1992 e 1993 ele lutou contra as imbatíveis Williams-Renault de Nigel Mansell e Alain Prost.

Ele conseguiu ficar em segundo em 93, sua última temporada com a McLaren. Contra todas as probabilidades, ele conquistou cinco vitórias soberbas, a maior delas em Donington Park, quando ele mais uma vez ficou em um nível separado de qualquer outro piloto.

Senna finalmente pôs as mãos em um Williams em 1994, e era esperado que ele ganhasse tudo. Mas, com ajudas artificiais à pilotagem proibidas, e uma falha de projeto em sua asa dianteira, não havia muito o que ele pudesse fazer.

Ele usou toda a sua genialidade para colocar a Williams na pole na corrida de abertura da temporada no Brasil, mas na corrida ele foi impotente contra a Benetton mais rápida de Michael Schumacher e Senna sofreu a ignomínia de rodar quando estava no encalço do alemão.

Ele não conseguiu terminar a segunda corrida também. Sofreu uma batida na primeira curva, e em seguida, em Ímola, lutando para se manter a frente de Schumacher, ele bateu na curva Tamburello a 305 kph.

Ele deveria ter saído ileso do acidente – vários pilotos antes dele tinham saído após acidentes similares no mesmo lugar. Mas um braço da suspensão perfurou o capacete e provocou ferimentos fatais em sua cabeça.

A morte de Senna com 34 anos de idade deixou para trás as memórias de um homem multifacetado e complexo, que foi muito mais do que um piloto de corridas.

Ele levou a sua profissão a um novo nível de compromisso e operou além do alcance de seus rivais, numa época em que o grid foi provavelmente o mais forte da história.

Ele pregou a moralidade, mas estava preparado para abandoná-la em busca de ambição e de seu próprio senso de justiça.

Ele falou eloquentemente sobre sua própria mortalidade, mas testou seus limites em cada ação dentro de um carro de corrida.

Tudo isso, juntamente com a sua humanidade, caráter e inteligência, deu a ele e ao esporte um apelo para milhões de pessoas no mundo inteiro.

Senna foi, como James Hunt disse uma vez, “um talento verdadeiramente impressionante”.

Veja a lista completa da BBC:

1 – Ayrton Senna
2 – Juan Manuel Fangio
3 – Jim Clark
4 – Michael Schumacher
5 – Alain Prost
6 – Sir Stirling Moss
7 – Sir Jackie Stewart
8 – Sebastian Vettel
9 – Niki Lauda
10 – Fernando Alonso
11 – Alberto Ascari
12 – Gilles Villeneuve
13 – Nigel Mansell
14 – Mika Hakkinen
15 – Lewis Hamilton
16 – Nelson Piquet
17 – Emerson Fittipaldi
18 – Jack Brabham
19 – Graham Hill
20 – Jochen Rindt

Veja também:
Ayrton Senna, muito mais que um campeão de F1 – Por Adauto Silva
Vídeo – Tributo do Top Gear a Ayrton Senna legendado por Autoracing

AS - www.autoracing.com.br

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