Barrica querido

terça-feira, 11 de janeiro de 2011 às 1:45

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Barrica querido

Primeiro vamos falar um pouco da corrida de ontem. Rubinho venceu nada mais nada menos que Lewis Hamilton num duelo cabeça a cabeça. Hamilton, um piloto de quem sou fã, é absolutamente extra classe, daqueles que aparecem no máximo uma vez por década na F1. Rubens largou atrás de Hamilton e de seu companheiro Kovalainen, que dominaram a classificação com tranquilidade. Ultrapassar em Valencia é difícil e bastante arriscado. Rubens manteve sua posição na largada e foi acompanhando Kovalainen de perto. Mais pesado, esperou o primeiro pitstop a aproveitou poucas voltas de pista limpa para acelerar muito e voltar na frente de Kova logo após sua parada. Depois havia Hamilton, que estava muito rápido e numa distância segura de Rubens. O segundo lugar parecia uma posição muito mais realista do que almejar a vitória. Mas Rubinho voltou de seu primeiro pitstop voando na pista e com pneus duros. A diferença para Hamilton começou a cair lentamente. Ainda não dava para ficar muito animado com uma possível vitória. Mas logo que Hamilton fez sua segunda parada, o engenheiro de Rubens foi no rádio do brasileiro e num tom absolutamente animado, quase gritando, o incentivou: “Precisamos de cinco voltas de classificação, Hamilton está fazendo sua parada, vamos lá Rubens!!!!”

E Rubinho meteu a faca entre os dentes e fez as tais voltas de classificação que precisava. A McLaren ainda ajudou um pouco fazendo uma lambança na parada de Hamilton que o fez perder alguns poucos segundos preciosos. Rubens parou para fazer seu segundo pit e voltou com folga na liderança, mais de 6 segundos. A vitória estava desenhada. Mas como com o Rubinho nada é fácil, a tensão continuava pairando no ar. Será que o carro não vai quebrar, os pneus moles vão aguentar, não vai haver um safety-car para atrapalhar tudo? Mas não, dessa vez tudo deu certo e Rubens guiou as últimas voltas tranquilo e ainda economizando equipamento.

E então vi algo que nunca tinha visto em mais de três décadas acompanhando a categoria; todas as equipes perfiladas aplaudindo Rubens enquanto ele levava seu carro para o parque fechado. O que foi aquilo? Foi algo muito significativo, mostrou o quanto ele é querido, reconhecido e admirado por seus pares. Eu posso gostar ou não de Rubens, você também, qualquer jornalista ou “especialista” também, mas um reconhecimento como o de ontem no seu próprio meio, pouquíssimos profissionais de qualquer área alcançam.

Eu sou fã do Rubinho Barrichello, sempre fui. Tem gente que acha isso errado. Como um colunista de automobilismo pode ser fã de pilotos? Eu não deveria ser imparcial? Ora, claro que não, imparcialidade não existe. Basta você estar vivo e ter uma opinião que você não é imparcial. E eu também não tento esconder isso porque seria ridículo, desonesto até. É muito melhor você saber o que está comprando do que eu tentar te vender gato por lebre. É difícil não ser fã de um cara como o Rubens. Além de guiar como poucos, de ter uma técnica muito apurada, muita determinação e muita raça, trata-se de uma pessoa extremamente agradável e de um caráter difícil de ser encontrado num meio como a Formula 1.

Rubens encarna como quase ninguém o perfil do brasileiro. Lutador, sonhador, determinado e que não desiste nunca. Muita gente aqui mesmo no nosso país o critica por isso. Prefeririam que ele falasse menos e vencesse mais, como se o país estivesse acostumado somente a vencedores que falam pouco. Na verdade Rubinho é uma tremenda exceção e um exemplo a ser seguido. Nenhum outro piloto na história da Formula 1 tem tantas largadas quanto ele. Pouquíssimos pilotos ficaram tanto tempo em equipes competitivas como ele e certamente nenhum outro ficou ou está há tanto tempo na F1 ganhando salário – e muito bom – da equipe. Este ano, quando todo mundo achou que ele viraria “pedestre”, eis que o respeitadíssimo Ross Brawn, que sabe de todas essas qualidades de Rubinho dos tempos de Ferrari, o chama para guiar um dos melhores carros da categoria.

Falando em Ferrari, muita gente não sabe, mas Rubens saiu de lá porque quis, escolheu sair, pediu demissão. Eu não lembro, pelo menos na história recente da Formula 1, de algum outro piloto pedir demissão da Ferrari.

Lembro do Oscar “Mão santa” no seu último jogo oficial pela seleção brasileira. Foi contra os EUA e seus mega-astros na época imbatíveis. Quando o jogo acabou todas as estrelas do time americano, além dos brasileiros, é óbvio, foram reverenciar Oscar mostrando um respeito e admiração impressionantes. Coisa para poucos, muito poucos.

Rubinho é um desses poucos.

Veja o video de Rubens chegando nos boxes e sendo aplaudido por todos!

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Até a próxima!
Adauto Silva
adauto@autoracing.com.br

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