Até quando, Fernando Alonso?

sexta-feira, 3 de março de 2017 às 11:25

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Colaboração: Victor Manoel de Oliveira Nunes

Acredito que a maioria dos leitores em algum momento da vida já ouviu falar no filósofo e estrategista de guerra Sun Tzu; ou melhor, já leu o clássico A arte da Guerra, considerado por muitos como o mais sábio tratado militar criado por esta civilização. Isto posto, aproveitando o ensejo, não é por demais lembrar que “se você conhece o adversário e conhece a si mesmo, não precisa ficar amedrontado com o resultado de cem batalhas. Se você se conhece bem, contudo não conhece o rival, para cada vitória, uma derrota. Agora, se você não se conhece bem, tão pouco o concorrente, perderá todas as batalhas”.

Incrível como o ensinamento de séculos é tão pertinente para a ocasião; da já estagnada e conturbada relação McLaren e Honda. Evidentemente, que mudanças nas regras geram bons sonhos, ambições e maior vontade em fazer algo diferenciado, com qualidade e eficiência comprovada no intuito de destacar-se frente aos adversários. Porém, nem sempre os resultados que almejamos são concretizados naquele período em específico; mesmo com aparato tecnológico de última geração, equipe alta performance, altos investimentos…

Modéstia parte, escrever artigo exige certa habilidade. E desenvoltura só na prática, experiência, dar a “cara a tapa”. Tenho bastante apreço pelas críticas construtivas. Isso é fascinante. Shakedown, testes coletivos, foram inseridos para afinar os equipamentos, corrigir os pequenos erros, aperfeiçoar os acertos. Enfim, é recomendável os problemas acontecerem na pré-temporada e serem solucionados a tempo, do que surgirem de surpresa após acederem às luzes na largada do GP da Austrália de 2017.

Registro isso porque não podemos deixar levar pelo momento, de modo que a razão seja posta inteiramente de lado, elevando a emoção a única e melhor forma de analisar o cenário. O cuidado, nessas circunstâncias, deve ser redobrado para não haver precipitação.

Consequentemente, surgem algumas indagações: êxito contínuo na Fórmula 1 exige projetos a médio, longo prazo? O projeto ao não apresentar crescimento acentuado no 3º ano é digno de continuidade? Afinal, aboliram tokens que limitam o desenvolvimento da Unidade de Potência. O MCL32 percorrer 69 (sessenta e nove) voltas em 02 (dois) dias de treinos, no total de 08 (oito) denota retroceder ao início de 2015? Ou toda nossa angústia, incerteza é desnecessária? Recordando que o novo conceito do motor Honda (charge cooler, por exemplo) é semelhante ao Mercedes, e o próprio Chefe da Honda Yusuke Hasegawa assegurou que esse motor possui o potencial para alcançar as flechas prateadas de 2016…

Infelizmente, certezas e respostas, apenas no decorrer da temporada. Agora convenhamos, alguns podem dizer que a Renault está progredindo razoavelmente bem; embora tenham acontecido pequenas falhas (comuns, diga-se de passagem)… A Ferrari melhorou exponencialmente entre 2014-2015; e a Honda?

Não carece aos japoneses uma segunda escuderia que possa dar maior quilometragem? Na intenção de aperfeiçoamento célere e realização de testes mais peculiares e arriscados? Falaram em Sauber, extinta Manor… A McLaren ainda a impede por contrato? Qual o eventual risco? Incompreensível “as laranjas” com a sede mais tecnológica e espetacular das escuderias, consegue ficar atrás da principiante Haas. Por favor, não interpretem equivocadamente…

As aparências enganam, mas dessa vez a escuderia britânica construiu bólido decente. E a Honda precisa, deve fazer jus a sua reputação. Do contrário “The dreams of power” serão eternos. Asseverar que o motor ainda não está no ponto, ok. Agora, falha decorrente no sistema de óleo e outra não identificada, atemoriza qualquer um. O pior é inexistir expectativa que tudo será resolvido até Melbourne. Verdadeiro caos. História recente corrobora.

Fico aqui imaginando e intrigado com a hashtag #lomejorestaporllegar de Fernando Alonso em 2014 e entrevista de Rubens Barrichello concedida a Reginaldo Leme na antiga e saudosa Linha de Chegada anos atrás; quando afirmou que na Honda Racing F1 Team, a diferença cultural em certas oportunidades, dificultava o andamento das operações – possuíam duas fábricas (Inglaterra e Japão), seja no estilo de trabalhar ou execução das ideias. Alguém relembra que o recém-vitorioso aposentado Shuhei Nakamoto (HRC – MotoGP) ocupou o lugar de Geoff Willis (atual Mercedes) como especialista em aerodinâmica em 2006? Quando o RA107 carregava o peso de todo o mundo e o desenvolvimento do RA108 encontrava-se comprometido, resolveu-se trazer estrangeiro como derradeira salvação.

Não é desconhecido que a Honda na Fórmula 1 se pudesse, desenvolveria o motor com maior tranquilidade, tempo e composta restritamente por engenheiros nipônicos. Todavia o esporte é dinâmico e universal. Vejamos abaixo declaração do lendário e inesquecível Luca di Montezemolo, esta semana, sobre a importância de profissionais qualificados sem atentar para a nacionalidade.

“A Ferrari arriscou-se. Querem ter um carro fabricado exclusivamente por italianos, mas na F1 você necessita dos melhores profissionais. Seria genial ganhar somente com italianos. Entretanto, a excelência não costuma vir de somente um país”.

Talvez não, esse é o exato momento para Honda contratar Mario Illien. Desperdiçar a oportunidade pode significar o início do fim de sua curta nova passagem pela categoria; que anteriormente já tinha sido de resultados bem aquém do imaginado. O suíço, engenheiro especialista em design de motores de competição, na longa trajetória, fez parceria com Roger Penske e GM na década de 80 e por consequência fundou a Ilmor Engenharia e competiu na Indy; firmou acordo nos anos 90 com a Mercedes Benz, ajudando a construir seus propulsores para a própria equipe de Woking e recentemente na função de consultor, ajudou Renault e Red Bull Racing a desenvolverem a unidade de potência. Nesse curto período, a diferença de desempenho é notória.

Assim sendo Honda, possibilidades e soluções, existem! Basta ambicionar e executar. A inércia acarretará somente em lamúrias, desapontamentos, amadorismos e inexpressividade de resultados. Isso ninguém quer. Respeito a própria imagem, credibilidade junto aos seus fãs e organização precisam ser transmitidas de modo coerente e certeiro. Do contrário, poderá surgir o Grupo VW, BMW ou a própria McLaren em seu caminho. E aí será tarde, o desgaste irreversível e o prejuízo previsível.

Voltando ao Mestre Sun Tzu, “o bom estrategista, para vencer uma batalha, faz antes muitos cálculos no seu templo, pois sabe que eles são a chave que o conduzirá a vitória. É calculando e analisando que o estrategista vence previamente a guerra na simulação feita no templo. Portanto, fazer muitos cálculos conduz à vitória, e poucos, à derrota”.

Ademais, Eric Boullier, Zak Brown e principalmente Alonso devem ter a sabedoria em contornar os problemas de maneira interna; garantindo a unicidade, cooperação, colaboração e a força em querer demonstrar na capacidade do grupo em alcançar o objetivo. A confiança é fundamental para todo tipo de relacionamento. A palavra, meticulosamente pensada e transmitida por quem exerce um papel de liderança salutar é obrigação moral e profissional.

Do contrário, salve-se quem puder. Não é mesmo, Fernando Alonso?

Victor Manoel de Oliveira Nunes
Natal – RN

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