“A Porsche faz parte de Le Mans, e Le Mans faz parte da Porsche”

domingo, 1 de junho de 2014 às 7:27

Porsche 919 Hybrid

Neste domingo, dia 1º de junho, os concorrentes da 82ª legendária corrida das 24 horas de Le Mans estarão disputando provas nessa pista famosa. Ela é a prova final do que discutivelmente é a corrida de automobilismo mais difícil do mundo. Os veículos da Porsche têm estado no grid de largada continuamente por 63 anos, e o fabricante de carros esportivos alemão é o recordista do campeonato, com 16 vitórias gerais e 103 vitórias de categoria. A mais recente vitória de categoria foi no ano passado, com dois carros 911 RSR em primeiro e segundo lugares na categoria GTE Pro. Até o momento, a última vitória geral foi há 16 anos, uma vez que a Porsche não tem disputado a categoria principal desde 1998. A Porsche retorna a essa corrida neste ano e enfrenta com o 919 Hybrid as novas normas de eficiência decretadas pela FIA, que limitam o consumo de energia por volta. Paralelamente, a equipe da categoria GT está tentando dar continuidade ao sucesso do ano anterior, o que representa um envolvimento gigantesco pela fábrica. Há também seis equipes particulares com carros Porsche dando a largada no evento; o piloto e proprietário de equipe mais bem conhecido é o piloto de corridas e ator americano Patrick Dempsey. No cargo de Diretor Executivo do setor de Pesquisa e Desenvolvimento na Porsche AG, Wolfgang Hatz é responsável pelo envolvimento da fábrica Porsche.

Sr. Hatz, quando e por que a Porsche decidiu retornar à principal categoria do campeonato mundial de endurance (World Endurance Championship, WEC) e Le Mans?

Wolfgang Hatz: “Isso aconteceu em 2011. Tanto naquela época, como agora, estávamos bem posicionados na categoria GT, mas está na hora da marca retornar ao nível de elite. As opções para isso são fáceis de entender. Temos a Fórmula 1 e temos o WEC com Le Mans. Um critério essencial para a decisão era o desejo de dar início ao projeto dentro da própria Porsche, para que assim o conhecimento fosse desenvolvido e permanecesse dentro da empresa. O World Endurance Championship, incluindo Le Mans, atendia melhor a esse objetivo; ele é um verdadeiro esporte de equipe, e isso é especialmente verdadeiro quando se trata de pilotos de equipe. Entretanto, precisávamos criar a infra-estrutura para tanto: novos prédios e uma equipe de 230 pessoas, sendo que todos eles são engenheiros”.

A conexão histórica com Le Mans também influenciou essa decisão?

Wolfgang Hatz: “A Porsche faz parte de Le Mans, e Le Mans faz parte da Porsche; elas se encaixam. Todavia, ninguém faz esse tipo de investimento devido à nostalgia; ele precisa gerar um retorno no futuro. Eu não consigo me lembrar de existir antes normas que davam aos engenheiros tanta liberdade e que exigiam tantas inovações. A obrigação de fabricar um híbrido e a fórmula de eficiência representam desafios revolucionários. Sinto muito orgulho de meus engenheiros por eles terem ido mais longe do que os outros. Em última instância, os clientes da Porsche serão beneficiados com isto”.

Você poderia explicar isto em termos leigos?

Wolfgang Hatz: “Nosso motor de combustão é o motor mais refinado e mais eficiente já desenvolvido pela Porsche. Este motor turbo compacto de dois litros e quatro cilindros, com injeção dieta de combustível e mais de 500 cv de potência, aciona o eixo traseiro. Ele é o menor motor com o menor número de cilindros na categoria principal da corrida. Nossos engenheiros também combinaram um sistema de recuperação de energia dos gases de exaustão fundamentalmente novo com este motor. Ninguém mais conta com isso. Armazenamos a energia recuperada de um fluxo de gases de exaustão que, caso contrário, seria improdutivo, em uma bateria. Armazenamos a energia que geramos durante a frenagem no eixo dianteiro nessa mesma bateria. Quando o piloto busca a energia deste reservatório formado pelas mais células de bateria de última geração, diversos cavalos força acionam o eixo dianteiro. Durante esta fase, o piloto tem uma poderosa tração nas quatro rodas à sua disposição. Nosso carro é o único na disputa que converte energia que, caso contrário, seria simplesmente desperdiçada, e a torna utilizável, não apenas durante a frenagem como também na aceleração. Isso representa um imenso potencial para os carros esportivos de rua do futuro”.

As normas de eficiência não seriam prejudiciais à própria corrida?

Wolfgang Hatz: “De maneira nenhuma; as corridas em Silverstone e em Spa-Francorchamps já demonstraram isso. Os protótipos contam com muita potência à disposição, não importa se ela é na forma de um motor de combustão interna ou elétrico. Eles precisam usar toda essa energia em cada volta, caso contrário, é um desperdício; não é possível guardar nada aqui. Estas corridas de endurance são corridas de velocidade máxima percorridas em distâncias inacreditáveis”.

O World Championship é formado por oito corridas, mas o enfoque é dado a Le Mans. Quando é que o envolvimento da fábrica seria considerado um sucesso?

Wolfgang Hatz: “Seria maravilhoso se a equipe da categoria GT pudesse dar continuidade ao sucesso do ano passado. Entretanto, isso é literalmente mais difícil porque tivemos que acrescentar peso aos carros de acordo com as novas regras. A equipe Porsche Team Manthey, liderada por Hartmut Kristen, conta com experiência abrangente, o que pode fazer uma diferença decisiva em Le Mans. A situação é completamente diferente no caso da equipe da Porsche liderada por Fritz Enzinger na categoria LMP1: não temos nenhuma experiência lá. O ano de 2014 é o ano do aprendizado, e não admitirmos isso significaria calcular mal Le Mans. Em Spa-Francorchamps, o Porsche 919 Hybrid demonstrou de maneira impressionante que a velocidade necessária está lá, ao conquistar a pole position e a volta mais rápida da corrida. Nossos concorrentes sabem que somos uma força que precisa ser reconhecida. Entretanto, o 919 Hybrid ainda não cobriu toda a distância de Le Mans em condições de corrida, e nesse respeito, seria um sucesso se apenas um dos LMP1 terminar o evento. Completarmos a corrida com ambos os carros seria fabuloso”.

Em Silverstone, vimos o senhor aplaudindo com emoção o lugar no pódio na plateia, sob chuva forte. Isso não seria a exigência elevada que a Porsche impõe para si mesma?

Wolfgang Hatz: “Aquele foi um momento de imensa alegria, mas não estou perdendo de vista a realidade em relação a isto. Fomos extremamente bem sucedidos em Silverstone, e também nos beneficiamos com o fato de que nossos concorrentes tiveram problemas. Entretanto, conseguimos concluir a primeira corrida de seis horas neste carro extremamente complexo com uma equipe que nunca antes havia disputado em um circuito. Todos os processos, especialmente em condições climáticas caóticas, funcionaram muito bem quando debutamos, e todos trabalharam muito duro para conseguirmos isso. Os pilotos mostraram tanto sua grande habilidade como também muita disciplina. O pódio foi uma ótima experiência para todos nós, e conquistamos tanto o primeiro como o segundo lugar na categoria GT. O quadro que você viu no domingo na Inglaterra foi maravilhoso”.

De onde o senhor estará assistindo à corrida de 24 horas?

Wolfgang Hatz: “Eu estarei trabalhando e não serei apenas um espectador. É claro que eu passo a maior parte do tempo na área do pit-stop. Eu vou a todas as corridas e estava nas pistas em quase todas as provas. Aliás, na maioria das vezes ao lado de Matthias Müller, Presidente da Diretoria Executiva, que também estará lá nos duas 14 e 15 de junho. Venha o que vier”.

EB - www.autoracing.com.br

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